domingo, 23 de junho de 2013

Gigante

Como se marchasse sobre Roma,
Um gigante marcha sobre São Paulo,
Esse império cosmopolita que agora
Renega Nuremberg.

Como se marchasse sobre Roma,
Um gigante marcha sobre Brasília,
Esse verde-amerelo monocromático
Que resiste o tempo.

Como se marchasse sobre Roma,
Um gigante marcha sobre o Rio de Janeiro,
E como num eterno retorno
O Brasil goleia a Itália.

Como se marchasse sobre Roma,
Um gigante marcha sobre Uberaba,
Os rebanhos passam, com um povo marcado
É dia de micareta.

Como se marchasse sobre Roma,
Um gigante marcha pretensamente acordado,
Pisoteando aqueles que nunca dormiram,
Hoje, o Gigante se engaja no engano.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Por uma revalorização da política.

A postagem de hoje procura contribuir um pouco com algumas reflexões sobre o que está se passando no Brasil com as mais diversas manifestações que vem ocorrendo nas cidades do país. É um texto produzido no calor do momento. É uma forma de tentar pensar algumas questões publicamente. Não há uma reflexão sistematizada, mas é a minha contribuição do momento. Como sempre, não tenho a verdade de nada.
É impossível não pensar e não falar em outra coisa além das manifestações e protestos que vem ocorrendo em diversas cidades brasileiras nas últimas semanas. Há, tanto nos espaços virtuais quanto na sociedade, um sentimento de euforia pelo momento que passa o país, o que se torna evidente nas milhares de hashtags espalhadas pelo facebook (#ogiganteacordou, #vamoprarua, dentre outras tantas). No entanto, a euforia precisa ceder seus momentos para a razão. É necessário perceber as virtudes e apontar os limites desse momento.
Sem dúvida, é maravilhoso ver o número de manifestações e de manifestantes em nosso país, que, historicamente, sempre procurou criminalizar[1] todos os tipos de manifestações e movimentos sociais, encarando-os como atos de vandalismo e baderna. O número de manifestantes impressiona, gera otimismo e a vontade irrefreável de participação nesse momento histórico do Brasil. Esse contágio se mostra válido na medida em que diversas cidades pacatas do interior do país estão se reunindo e saindo as ruas para protestarem.
Todavia, é necessário refletir e apontar algumas questões relevantes em torno das manifestações e, sobretudo dos manifestantes. Existes algumas questões bastantes óbvias que não necessitam de uma discussão mais detida, como o vandalismo de alguns manifestantes. Não é preciso dizer quão estúpidos são esses atos. Mas, felizmente, estes são a minoria dos que se manifestam e, ainda, os manifestantes que não aderiram ao vandalismo procuram impedir atos de depredação do patrimônio público, o que reforça o caráter pacífico dos protestos, o que precisa ser, de fato, elogiado.
O que gostaria, portanto, de analisar é o conteúdo político que aparece nessas manifestações. Nota-se uma rejeição aos partidos políticos e mesmo à política institucional brasileira, que, na visão dos manifestantes, não representa os interesses do povo brasileiro. Esses fatos se evidenciam com nitidez nas discussões existentes nas redes sociais e nas próprias manifestações, quando as bandeiras dos partidos políticos, sejam quais forem, são terminantemente proibidas.
Tal rejeição é totalmente compreensível no Brasil. Aparentemente, não há distinções entre partidos políticos. Os políticos brasileiros representam mais seus próprios interesses que os interesses do povo que os elegeu, o que é também inegável. No entanto, essa rejeição aos partidos e a política institucional pode se mostrar perigosa e prejudicial ao andamento dos movimentos e das manifestações.
O partido político, como já detectara Antonio Gramsci no início do século XX, é a instituição responsável por estabelecer a mediação entre a sociedade civil e a sociedade política. Assim, o partido se comporta como um intelectual coletivo, sendo responsável por absorver, criar e reproduzir as vontades coletivas surgidas na sociedade civil. Nesse sentido, para Gramsci, o partido político, a partir da vontade coletiva, entra na disputa pela hegemonia na sociedade, almejando tornar-se governante dentro da sociedade. Na análise gramsciana, o partido não aparece como uma instituição contrária aos interesses da sociedade como um todo; pelo contrário, o partido político brota dos interesses históricos da sociedade civil.
No Brasil, portanto, é necessário perceber, e creio que os manifestantes também o perceberam, que os partidos políticos representam determinados setores da sociedade civil que possuem interesses distintos aos interesses da população em geral. No entanto, na configuração política atual brasileira, as instituições parecem ser ainda necessárias à população brasileira, de modo que rejeitá-las integralmente pode fazer com que as manifestações esbarrem em dificuldades insolúveis.
Isso ocorre porque é necessário que os interesses que brotam da sociedade civil se manifestem dentro da sociedade política. Deste modo, é preciso que novos intelectuais coletivos surgem no sentido de organizar esses interesses da sociedade civil, para que estes interesses se universalizem dentro da sociedade brasileira. Esse intelectual coletivo pode surgir por baixo, do interior desses movimentos, de modo que essas manifestações podem gerar atores políticos que atuem no interior das instituições brasileiras, transformando-as por dentro. Com isso, haveria a construção de uma instituição representativa dos interesses dessa sociedade.
Essa rejeição dos partidos e da política institucional explica-se historicamente. Tais manifestações se inserem, globalmente, em um momento que se prolonga desde o início dos anos 1990, que nomeia-se pela crise das ideologias. Findo o embate entre socialismo e capitalismo e finda a URSS, a distinção entre esquerda e direita parece ter se esgotado e as ideologias parecem ter se acabado. Em uma perspectiva nacional, esses movimentos partem de uma geração, a geração que nasceu no final dos anos 1980 e início dos 1990, que transformou a política e os políticos em sinônimos de bandidagem e busca de interesses próprios. Isso ocorre por razões óbvias. Nossa transição democrática não se resolveu de modo satisfatório, ainda que o projeto mais conservador dos militares não tenha sido efetivado de modo integral. As Diretas Já! reúnem milhares de pessoas em diversas manifestações e são derrotadas, de modo que a primeira eleição pós-ditadura militar ocorre de modo indireto. Para agravar a situação, o primeiro presidente que elegemos é Fernando Collor. Para além disso, assistimos casos e mais casos de corrupção no Brasil, como o recente Mensalão.
Diante disso, é necessário refletir acerca dos caminhos que tais protestos desejam tomar. É ponto consensual que os partidos e instituições que temos no Brasil não nos representam. No entanto, me parece não ser possível haver progressos mais sólidos dessas manifestações sem uma nova proposta de representação política no Brasil. A reformulação dos partidos, obviamente, não é o caminho exclusivo para uma reforma política no Brasil, mas parece ser um dos elementos fundamentais, dada a concepção de partido político enunciada acima.
Nesse sentido, creio que um caminho para as manifestações no Brasil seja o do aprendizado. Creio que tais movimentos devam promover o aprendizado da revalorização da política no Brasil. Diante das revoltas, os manifestantes devem desfazer a concepção da política como sinônimo da busca dos interesses pessoais, passando a revalorizá-la como uma esfera de mediação de interesses coletivos necessária ao progresso e consolidação da democracia no Brasil.
Contudo, alcançar o caminho da coletividade parece ser complicado. Apesar de milhares de pessoas estarem protestando ao mesmo tempo em diversos lugares, não há coesão entre os manifestantes. Diversas ideologias e propostas coexistem dentro do movimento. Protesta-se contra uma multiplicidade de pontos, tanto à esquerda quanto à direita. Parece-me que isso é um sintoma claro da historicidade do tempo em que vivemos. As propostas de coletividade decrescem em torno de propostas individualistas, gerando, assim, uma sociedade atomizada e líquida, no sentido dado pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman.
Isso também demonstra que as propostas globais de transformação da sociedade, ou macroprojetos alternativos, estão em descrédito. A leitura do filósofo Slavoj Zizek sobre os movimentos Occupy de 2011 parece também adequar-se ao que acontece no Brasil de hoje. Para o filósofo, tais movimentos se colocam na oposição de determinada ordem estabelecida, no entanto, não conseguiram formular ainda um projeto alternativo para tal ordem. Assim, no Brasil, estamos fartos da ineficiência do Estado brasileiro em oferecer determinados serviços; todavia, não sabemos que colocar no lugar dessa ordem estatal.
Portanto, creio que seja necessário que tais movimentos busquem uma reavaliação da idéia de política no Brasil. Além disso, é também necessário utilizar esse momento de oposição para gestar um novo projeto político coletivo que possa organizar e unificar essa oposição no sentido de transformar a ordem política brasileira, transformando, de fato a sociedade. Caso isso não seja feito, é possível que as manifestações prossigam e terminem em si mesmas.




[1] É importante notar que a mídia brasileira mostra uma mudança de opinião em relação aos protestos no momento em que o autoritarismo policial atinge os manifestantes e inclusive os jornalistas. Fato que evidencia esse mudança de opinião é já clássico programa do Datena, que o apresentador, ao ver as opiniões em uma enquete do programa, transforma o enfoque dado as manifestações.

domingo, 2 de junho de 2013

O que está acontecendo em Istambul?

Hoje tenho uma postagem diferente. Pela primeira vez não vou postar um texto meu. O texto que vou postar a seguir é uma tradução minha de uma carta escrita por Sumandef Hakkunda acerca da manifestações ocorridas na cidade de Istambul, na Turquia. A versão original da carta, em inglês, pode ser vista no endereço: http://defnesumanblogs.com/2013/06/01/what-is-happenning-in-istanbul/




Aos meus amigos que vivem fora da Turquia:

Eu estou escrevendo para que vocês saibam o que está acontecendo na Turquia nos últimos cinco dias. Eu, pessoalmente, devo escrever porque a maior parte da mídia foi silenciada pelo governo, e o boca a boca e a internet são as únicas formas existentes que restaram para nos explicarmos e pedir ajuda.

Há quatro dias um grupo de pessoas que não pertencem a nenhuma organização e nem possuam uma ideologia específica se reuniram no parque Gezi em Istambul. Dentre eles havia muitos amigos e estudantes. Sua reivindicação era simples: Prevenir e protestar contra a demolição do parque para a construção de mais um shopping center no centro da cidade. Há vários shoppings aqui. Pelo ao menos em cada bairro! A derrubada das árvores estava marcada para ocorrer na manhã de quinta-feira. Assim, as pessoas foram ao parque com seus cobertores, livros e crianças. Montaram acampamento e passaram a noite embaixo das árvores. Pela manhã, quando as máquinas começaram a funcionar na tentativa de derrubar árvores centenárias, as pessoas se colocaram diante das máquinas, tentando parar a operação.

Não fizeram nada além de se colocarem diante das máquinas.
Nenhum jornal, nenhum canal de televisão estava lá para cobrir o que estava acontecendo. Era um completo black out da mídia.

Mas a polícia chegou no parque como seus jatos d’água e seus sprays de pimenta e perseguiram a multidão pelo parque.

Ao anoitecer, o número de protestos se multiplicou, assim como o contingente policial na área. Enquanto isso, o governo de Istambul desligava os caminhos possíveis até a praça Tasksim, onde está localizado o parque Gazi. O metrô foi desligado, as balsas foram canceladas e as rodovias foram bloqueadas.

Ainda assim, várias pessoas se dirigiam ao parque caminhando.

Eles vieram de todos os cantos de Istambul. Eles possuíam ideologias diferentes, religiões diferentes. Todos eles se juntaram para evitar a demolição de algo maior que o parque:

O direito de viver honrosamente como cidadãos desse país.

Juntaram-se e marcharam. A polícia os perseguiu como seus sprays de pimenta e gás lacrimogênio, dirigindo tanques contra as pessoas, que em troca ofereciam alimento aos policiais. Dois jovens foram mortos, atropelados pelos tanques. Outra jovem, amiga minha, foi atingida na cabeça por uma lata de gás lacrimogênio. A polícia estava atirando-os diretamente contra a multidão. Mesmo após três horas de cirurgia, ela ainda está na Unidade de Tratamento Intensivo, em condição crítica. Enquanto escrevo isso, não tenho certeza se ela conseguirá escapar. Por isso, esse blog é dedicado a ela.

Essas pessoas são minhas amigas. São meus estudantes, meus parentes. Não possuem “planos secretos” como afirma o Estado. Seus planos estão lá, muito claros. O país vem sendo vendido para grandes corporações pelo governo, para a construção de shoppings centers, condomínios de luxo, rodovias e plantas de usinas nucleares. O governo está procurando (e criando, quando necessário) justificativas para atacar a Síria contra a vontade de seu povo.

Além disso, o controle da vida da população pelo Estado atingiu níveis insuportáveis. O Estado, sob uma agenda conservadora aprovou diversas leis que procuram regular o aborto, as cesarianas, a venda e o uso de álcool, e até a cor do batom usado pelas aeromoças.

As pessoas que estão marchando para o centro de Istambul estão reivindicando o direito de viverem livremente, com justiça, sendo protegidos e respeitados pelo Estado. Desejam participar das decisões que envolvem a sociedade.

E o que eles recebem em troca é o excesso da força policial que atira diretamente em seus rostos grandes quantidades de gás lacrimogênio. Três pessoas perderam seus olhos.

E ainda assim eles marcham. Centenas de milhares de juntam a eles. Mais de mil pessoas cruzaram a ponte Bosporus a pé para apoiar os manifestantes em Taksim.

Nenhum jornal ou TV estava lá transmitindo o evento. Estavam ocupados transmitindo o concurso de Miss Turquia ou “o gato mais estranho do mundo”.

A polícia continua perseguindo os manifestantes com seus gases e sprays. A quantidade é tamanha 
que até cães e gatos já morreram envenenados pelo gás.

Escolas, hospitais e até hotéis 5 estrelas nos arredores de Taksim abriram suas portas para abrigar os feridos. Médicos enchem salas de aulas e quartos de hotel procurando oferecer os primeiros socorros. Policiais se recusam a disparar spray de pimenta em pessoas inocentes e abandonam seus empregos. Bloqueadores de sinal 3g foram postos ao redor da praça para impedir a conexão a internet. No entanto, moradores e comerciantes locais oferecem sinal para os manifestantes. Restaurantes oferecem comida e água grátis.

Pessoas e Ankara e Izmir se juntaram à resistência nas ruas de Istambul.

A mídia ainda continua mostrando a Miss Turquia e o “gato mais estranho do mundo”

Eu escrevo essa carta para que vocês saibam o que se passa em Istambul. A mídia de massa não cobrirá nada, ao menos em meu país. Por favor, postem todos os artigos que virem na internet e divulguem o que está acontecendo.

Quando eu postava artigos sobre o que ocorria em Istambul ontem a noite na minha página do Facebook uma pessoa me perguntou:

“O que você espera conseguir reclamando do seu país para estrangeiros?”

Esse blog é uma resposta a ela.

Por “reclamar” do meu país eu espero conseguir:
Liberdade de fala e expressão
Respeito aos direitos humanos
Controle das decisões sobre o meu corpo.
O direito de me reunir em qualquer parte da cidade sem ser considerado um terrorista.

E para vocês que eu espalho esse artigo, meus amigos que vivem em outros países, eu espero deixa-los conscientes, conseguir apoio e ajuda.
Por favor, espalhem esse artigo e divulguem esse blog!
Obrigado!

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Pensando educação e tecnologia


Esse é um texto diferente. Geralmente, quando escrevo, não escrevo para alguém em específico. No entanto, esse texto está sendo escrito para os meus alunos do 9º ano. Recentemente, em meio as nossas discussões sobre as revoluções industriais pedi-lhes uma reflexão sobre os impactos das tecnologias em suas vidas e na escola. Assim, com esse texto eu venho entrar nesse debate, apontando algumas questões para ajudar (e até mesmo colocar algumas dúvidas, hehe) no trabalho de vocês.
Imaginar a vida atualmente sem as tecnologias ligadas à informática parece ser impossível. Os computadores, os tablets, notebooks, celulares, iphones, ipods e afins entraram de tal forma em nossas vidas que parece improvável que abandonemos todas essas tralhas eletrônicas.
A primeira vista, nossa primeira análise é considerar que essas tecnologias auxiliam bastante em nossa vida cotidiana, facilitando a comunicação, o acesso fácil a informações, conteúdos culturais, bem como em nossos estudos, afinal, o Google é a nossa grande enciclopédia moderna!
De fato, todos esses produtos podem facilitar nossa vida e nossos estudos. Sempre em meus estudos e pesquisas me pego pensando nas gerações anteriores que desenvolveram todo o conhecimento da humanidade sem a ajuda de nenhum mecanismo de busca global.
No entanto, é necessário pensar sobre como estamos utilizando essas tecnologias em nossas vidas e em nossos estudos. O impacto do desenvolvimento industrial e das tecnologias de informática fizeram com o que o mundo se tornasse extremamente acelerado: estudamos, trabalhamos, enfim, vivemos, sobretudo nas grandes cidades freneticamente, de modo que precisamos que outros pontos de nossas vidas acompanhem essa velocidade.
Assim, gostamos de tudo aquilo que é rápido, tecnológico. Até quando vamos comer optamos pelos fast foods (o que significa todas as formas de restaurantes que servem comida rápida, não só os McDonald’s ou os Burguer King’s) porque estamos sempre na correria do dia-a-dia, procurando a alternativa mais rápida para caber no nosso curto tempo livre para almoço. Todavia, essa velocidade no que diz respeito aos estudos pode ser extremamente prejudicial. Geralmente, o que obtemos a partir de buscas na internet e em jornais são apenas informações rápidas e superficiais sobre o que queremos saber.
Com isso, nos acostumados a aprender a partir de informações curtas, rápidas e superficiais, como um tweet. Assim, quando precisamos desenvolver um raciocínio que vai além da lógica das informações simples encontramos sérias dificuldades. A produção do conhecimento é lenta, enquanto a produção da informação é rápida.
Obviamente, não quero dizer que a tecnologia tenha que ser abolida de nossas vidas e de nossas escolas. Pelo contrário, creio que precisamos refletir como utilizar essas tecnologias do melhor modo possível, para contribuir para a produção do conhecimento! O que pretendo ressaltar é que a tecnologia utilizada na escola sem qualquer reflexão pode não auxiliar em muita coisa! Sem uma reflexão e preparo, o uso de slides, filmes, softwares pode servir somente para trazer informações aos alunos.
Portanto, concluindo, as mais diversas tecnologias devem ser usadas para promover o conhecimento e não simplesmente para transmitir informações para os alunos. Além disso, acredito que a utilização da tecnologia em sala de aula pode ser um ótimo jeito para aproximar os professores, a escola e os alunos, despertando o interesse pelo estudo.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

O Concerto

Perdi o sono. Mas acordei com vontade de escrever algo. Durante algum tempo encarei a tela do computador pensando sobre o que eu poderia escrever para hoje. Nada me vinha a mente, até que me lembrei um filme que me fez perder o sono. Há algumas semanas acabei encontrando esse filme passando no Telecine Cult às 5 da manhã e, quando me dei conta, olhei pela sacada do apartamento: o sol já havia nascido. 

Antes de adentrar espeficamente nos comentários sobre o filme, notei algo interessante, na verdade uma ausência, nesse blog. Apesar da música sempre ter ocupado um espaço extremamente importante na minha visa, me despertando as maiores e mais profundas emoções, nunca houve aqui uma postagem relativa à música, exceto alguns poemas que se referem aos suícidios de Ian Curtis e de Kurt Cobain.

Esse post, em última instância, pode terminar servindo para preencher uma lacuna que jamais compreendi porque não foi preenchida antes. Apesar de estarmos falando de cinema, o filme em questão possui um diálogo explícito e bastante belo com a música. Não por acaso, o filme que vou comentar hoje se chama "O Concerto" (Le Concert), do diretor romeno Radu Mihaileanu. 



Durante a última década do regime "socialista" (as aspas se explicam depois) há um concerto de música erudita ocorrendo no teatro Bolshoi na União Soviética. O Concerto para Violino de Tchaikovsky é executado pela orquestra regida pela batuta do maestro Andrei Filipov. Contudo, apesar da beleza do concerto, um funcionário do Estado sobe ao palco, parte ao meio a batuta de Filipov, acusando-o de ser inimigo do povo, por ter contratado a apoioado músicos judeus na orquestra do teatro. Repentinamente, as cortinas se fecham e o espetáculo se encerra antes do fim.

Trinta anos depois do concerto interrompido e da queda de União Soviética, a situação dos músicos da orquestra é bastante precária. Nenhum dos músicos se dedica mais à sua arte. Filipov, por exemplo, de maestro respeitado passa a zelador do Teatro Bolshoi. No entanto, algo inusitado acontece e reacende o sonho de Filipov em finalizar o Concerto interrompido há trinta anos. Ao limpar a sala do diretor do teatro, Filipov lê uma mensagem de fax enviada da França convidando a orquestra do Bolshoi para uma apresentação. O antigo maestro rouba o fax da sala do diretor e mostra a um antigo companheiro da orquestra.

A idéia de Filipov é mirabolante: reunir todos os músicos da orquestra e partir para Paris para finalizar o concerto. Para arcar com os custos da viagem, obtenção de passaportes e outros documentos, a orquestra conta com a ajuda de um membro do Partido Comunista, o antigo PCUS, partido este que fora responsável pela interrupção do Concerto há 30 anos. No entanto,apesar do conflito entre as partes ocorrido nos tempos da URSS, o diretor estabelece uma aproximação entre os músicos e o membro do Partido. Ambos se encontram falidos, destituídos das glórias que um dia obtiveram nos tempo da União Soviética. A situação do partido é tão precária que a mulher de Filipov é paga pelo partido para reunir pessoas em suas discursos e manifestações. Assim, os dois se encontram a procura de uma espécie de redenção.

Ainda que essas relações sejam tensas e conflituosas, no filma são tratadas com um tom cômico que acaba por suavizá-las. Em alguns momentos do filme o humor acaba por reproduzir alguns estereótipos, como o do judeu comerciante viciado em dinheiro, ou mesmo dos russos como grandes bebedores de vodka. No entanto, nada que venha a prejudicar a qualidade do filme, visto que as trapalhadas dos russos em Paris são um interessante contraponto à seriedade dos proprietários do teatro francês.

Esse tom cômico perdura até o momento em que novos conflitos são adicionados à cena. Como condição primordial de irem se apresentar na França, a falsa orquestra do Bolshoi exigiu que a violinista solo fosse uma jovem virtuose chamada Anne Marie Jacquet. Anne Marie é uma violinista mundialmente reconhecida e respeitada, mas que, assim como Filipov, possui uma relação inacabada com Tchaikovsky. Ainda que maravilhosa violinista, Anne Marie jamais havia tocado Tchaikovsky.

A despeito disso, Anne Marie aceita o convite da orquestra para a apresentação. No entanto, a maioria dos músicos da orquesta desaparece pelas ruas de Paris e não vai aos ensaios, o que, obviamente, deixa Anne Marie irritada e faz com que a garota rompa com o compromisso da apresentação. Após o rompimento um dos músicos da orquestra, Sascha, vai até a casa de Anne Marie para tentar convencê-la a voltar à orquestra. 

Sascha diz à Anne Marie que ao final desse concerto ela poderia encontrar seus pais. Anne Marie é órfã, tendo sido criada por uma mulher que lhe ensinara a tocar, mas sempre escondera a verdade sobre o que de fato havia acontecido com seus pais. A possibilidade de redenção com seu passado também termina por mover Anne Marie.

Assim, sabendo que Anne Marie voltaria ao concerto, Filipov consegue convencer que os músicos da orquestra voltem para o Concerto enviando mensagens de texto em seus celulares. A mensagem era simples e dizia: "Voltem! Por Lea!". É nesse momento que o filme assume seus contornos finais e também sua forma mais emocionante e sublime. 

É, portanto, no Concerto, que todos se redimem com seu passado. É por meio da música, do seu envolvimento, sua paixão, sua catarse, que todos os sentimentos e traumas do passado são postos à mostra e finalmente resolvidos. É durante o Concerto que o passado de Filipov, da orquestra, de Anne Marie se conectam e se entrelaçam de maneira sublime. Nesse momento, há poucas palavras que se sobrepõem ao som de Tchaikovsky. Aqui, o poder da música é supremo e é isso que torna O Concerto tão emocionante e dramático no seu desfecho.

Creio que tenha sido por essa razão que o filme tenha me impactado tanto nas duas vezes em que assisti e tenha me tirado o sono. Ainda hoje quanto toco, relembro algumas cenas desse filme que acabam me inspirando a continuar tocando e a tentar melhorar. Enfim, esses foram alguns comentários insones sobre O Concerto.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Alguns apontamentos sobre educação na análise de Antonio Gramsci

Para variar estou há algum tempo sem postar. Mas começo a perceber que essa falta de regularidade pode até vir a tornar-se uma vantagem. Os tempos de silêncio significam que estou ocupado com outros estudos, outras leituras ou mesmo que não tenho nada a dizer a quem lê esse espaço.

O texto que postarei hoje é resultado de uma reflexão desenvolvida para a disciplina que trata da organização curricular nas escolas, ministrada pela Prof. Graziela Pachane. Então, vamos ao texto:

O presente trabalho visa problematizar algumas questões acerca da estruturação do sistema educacional no início do século XX. Para tanto, partiremos das reflexões do filósofo italiano Antonio Gramsci, sobretudo de suas análises sobre os intelectuais e o princípio educativo. Trazer Gramsci para esse debate significa perceber a escola e os sistemas de ensino inseridos em um contexto de conflitos pela hegemonia, no qual diversos grupos políticos e sociais buscam imprimir determinado projeto na sociedade que disputam.
Deste modo, Gramsci, partindo de suas experiências da realidade italiana dos anos 1920-1930, busca pensar a escola de uma maneira essencialmente histórica, de modo que ao estudar a escola e os sistemas de estruturação do ensino podemos também compreender a sociedade que os gestou, percebendo que existem múltiplas determinações e interesses nessa estruturação. Nesse sentido, o filósofo italiano afirma que na sociedade moderna as ciências se tornaram mais complexas, mesclando-se intimamente à vida. Esse alto nível de complexidade e ligação à vida gerou a necessidade de criação de novos tipos de escola que formassem determinados intelectuais especializados no desenvolvimento dessas atividades práticas da vida moderna. Para Gramsci, nsse momento há uma ruptura com o modelo clássico de escola, amplamente baseado no "humanismo". Enquanto a escola do tipo tradicional busca "desenvolver em cada indivíduo a cultura geral ainda indiferenciada, poder fundamental de pensar e saber orientar-se na vida" (GRAMSCI, 2011, p. 32) , surge um novo tipo de escola que se baseia na produção de indivíduos especialistas em determinadas áreas.

Essa diferenciação ocorre em virtude do desenvolvimento industrial, que na Itália se inicia e se consolida entre o final do século XIX e início do XX. A indústria cria a ncessidade de produção de indivíduos dotados de um saber técnico-prático, em detrimento de indivíduos formados nas bases do pensamento humanista. Com isso, Gramsci aponta para uma diferenciação que obedece também à critérios sociais entre esses dois tipos de escola. A escola tradicional, humanista, ainda que perca espaço na sociedade, continua existindo com o objetivo de formar uma "elite de senhores e de mulheres que não devem pensar em preparar-se para um futuro profissional" (p. 33), enquanto a escola técnica destina-se a um amplo número de indivíduos que aprenderão uma determinada profissão. Portanto, nessa perspectiva, Gramsci aponta para a existência de marcas sociais na escola

"A escola tradicional era oligárquica já que destinada à nova geração dos grupos dirigentes, destinada por sua vez a tornar-se dirigente: mas não era oligárquica pelo seu modo de ensino. Não é a aquisição de capacidades de direção, não é a tendência a formar homens superiores que dá a marca social de um tipo de escola. A marca social é dada pelo fato de que cada grupo social tem um tipo de escola próprio, destinado a perpetuar nestes estratos uma determinada função tradicional, dirigente ou instrumental. Se se quer destrir essa trama, portanto, deve-se não multiplicar e hierarquizar os tipos de escola profissional, mas criar um tipo único de escola preparatória (primária-média) que conduza o jovem até os umbrais da escolha profissional, formando-o durante este meio tempo, como pessoa capaz de pensar, de estudar, de dirigir ou de controlar quem dirige" 


Portanto, por meio desse trecho podemos perceber que cada escola possui determinada intencionalidade na formação de seus indivíduos. A escola pode tanto formar intelectuais capazes de assumir funções diretivas na sociedade, quanto sujeitos aptos a desenvolver atividades técnicas. Ainda que para Gramsci não seja o modo de ensino em si que confira a marca social à escola, a estruturação do currículo e dos saberes reafirmar esta marca social, uma vez que buscam atender à intencionalidade formativa da escola.

Nesse sentido, Gramsci percebe que, separados, os dois tipos de escola não são suficientes na formação do sujeito. Diante disso, o italiano propõe a idéia de uma escola unitária, que reordene as capacidades manuais e intelectuais do indivíduo. Assim, de forma simplificada, formando-se na escola unitária, as hierarquias sociais estabelecidas a partir das marcas sociais das escolas desapareceriam em torno de uma educação estruturada a partir da junção entre o saber prático, necessário à vida moderna e industrial, e o saber humanístico, necessário para a direção e reflexão acerca da sociedade. Com isso, Gramsci propõe formar um novo tipo de intelectual a partir de uma espécie de educação da práxis.

Deste modo, aqui procuramos problematizar algumas questões acerca da imbricação entre a história e a formação das escolas e da estruturação dos saberes escolares. Nesta discussão pudemos perceber que a escola leva a marca social de seu tempo e de suas hierarquizações sociais, possuindo determinadas intencionalidades e ideologias em seu interior. Assim, a escolha de Gramsci se dá na medida em que tais reflexões, apesar de terem sido elaboradas nos cárceres do fascismo nos anos 1930, nos auxiliam a pensar nosso próprio tempo, abrindo caminhos para pensar as marcas sociais de nossas próprias escolas, problematizando a questão do currículo, que surge também como um reforço de determinada marca.


sábado, 1 de dezembro de 2012

O Professor como Intelectual.


Ultimamente as reflexões acerca da educação, e mais especificamente do ensino de História, tem me ocorrido bastante, creio que em virtude da proximidade do final da graduação, do desenvolvimento do estágio e da participação no PIBID – Programa de Iniciação à Docência – vinculado à CAPES, do qual faço parte desde agosto deste ano. Diante disso, pretendo levantar hoje algumas questões problematizando o professor como um intelectual, a partir das análises do filósofo italiano Antonio Gramsci.
A obra de Gramsci aborda diversas temáticas que se alongam desde estudos sobre economia à estudos sobre folclore e gramática. No entanto, a obra do italiano encontra-se fragmentada. Gramsci, em virtude de suas práticas políticas no PCI – Partido Comunista Italiano – do qual fora um dos membros fundadores, foi encarcerado pelo regime fascista de Mussolini em meados anos 1920, permanecendo por cerca de uma década no cárcere. Na prisão Gramsci produziu uma série de reflexões que foram anotadas em cadernos que posteriormente foram reunidos para publicação. No Brasil, a obra gramsciana foi traduzida e editada pelo agora saudoso Carlos Nelson Coutinho e Luiz Sérgio Henriques. Assim, com os seis volumes dos Cadernos do Cárcere podemos ter acesso à vasta e complexa obra de Antonio Gramsci.
Dentro desse imenso caldo de análises, retomarei um dos pontos fundamentais da obra de Gramsci: a questão dos intelectuais. Primeiro, analisarei de modo breve e esquemático as definições do filósofo sobre esse grupo social, articulando tais definições com seus escritos sobre a educação, para que, posteriormente, possamos problematizar o professor enquanto intelectual.
Para Gramsci todos os homens são intelectuais, ou ao menos possuem capacidade para tal, contudo, nem todos os homens assumem a função de intelectual dentro da sociedade, de modo que a condição de intelectual é produzida a partir de determinadas relações sociais. A partir dessa definição, Gramsci se distancia da imagem do intelectual enquanto um homem iluminado, portador de um alto saber erudito, passando a compreender o intelectual enquanto um funcionário da superestrutura, isto é, um funcionário responsável pela organização da cultura na sociedade. Nessa perspectiva, o intelectual assume uma função de direção na sociedade, ou em determinado grupo social, organizando-o e conferindo-lhe consciência.
À esse grupo heterogêneo dos intelectuais Gramsci estabelece duas divisões: os intelectuais orgânicos e tradicionais. Acerca dos intelectuais orgânicos Gramsci afirma:

Todo grupo social, nascendo no terreno originário de uma função essencial no mundo da produção econômica, cria para si, ao mesmo tempo, organicamente, uma ou mais camadas de intelectuais que lhe dão homogeneidade e consciência da própria função, não apenas no campo econômico, mas também no social e político.


Sobre os tradicionais, continua:

Todo grupo social “essencial”, contudo, emergindo na história a partir da estrutura econômica anterior e como expressão do desenvolvimento dessa estrutura, encontrou – pelo menos na história que se desenrolou até nossos dias – categorias intelectuais preexistentes, as quais apareciam, aliás, como representantes de uma continuidade histórica que não foi interrompida nem mesmo pelas mais complicadas e radicais modificações das formas sociais e políticas.


A partir dos trechos citados acima é necessário perceber que os intelectuais se constituem em uma categoria histórica, surgindo a partir das necessidades de determinados grupos sociais. Esse enraizamento histórico é válido tanto para os intelectuais orgânicos quanto para os tradicionais. No entanto, intelectuais orgânicos e intelectuais tradicionais dizem respeito à origens históricas distintas. Como evidenciado nos trechos acima, para Gramsci os intelectuais orgânicos surgem a partir de grupos originários do terreno da produção que necessitam de sujeitos que lhe confiram consciência e homogeneidade nos campos social e político. Os tradicionais, ainda que também originados da estrutura produtiva, são originados por uma estrutura produtiva anterior, que foi destruída ou que perdeu espaço na sociedade, representando assim uma continuidade histórica.
Além de dividir os intelectuais em duas categorias, Gramsci também divide as esferas de atuação dos intelectuais na sociedade. Para o italiano, a sociedade encontra-se divida na sociedade civil[1], constituída à grosso modo pelos organismos privados, e pela sociedade política, que, também, de modo simplificado, diz respeito ao âmbito do Estado. No interior de ambas as esferas, a função dos intelectuais é contribuir para a formulação e consolidação da hegemonia, isto é, a produção do consenso entre a sociedade.
Portanto, a organização da cultura por parte dos intelectuais visa a disputa pela hegemonia na sociedade. Essa disputa ocorre em praticamente todos os espaços políticos e culturais, desde a imprensa até mesmo a escola. Assim, os grupos sociais, aos quais os intelectuais estão ligados organicamente, criam aparelhos privados de hegemonia, ou ainda buscam se apropriar dos aparelhos do Estado.
É a partir desse ponto que Gramsci começa a pensar a escola. Partindo de uma concepção bastante ampla da instituição escolar, Gramsci percebe que cada grupo social cria determinadas escolas que atendam tanto a sua demanda pela formação de intelectuais, quanto a sua demanda pela expansão do consenso na sociedade. Nesse sentido, cada escola é orientada a partir de determinadas perspectivas políticas e culturais que nortearão à formação de seus estudantes.
Diante disso, podemos trazer a discussão de Gramsci para pensar a escola brasileira, sobretudo a pública, e sua relação com seus intelectuais, tanto professores quanto diretores e coordenadores. Pensar a escola enquanto um aparelho de hegemonia implica em dizer que determinado grupo da sociedade civil, ao assumir o Estado, ou seja, a sociedade política, busca implementar seu próprio projeto de hegemonia a partir dos vários espaços disponíveis para tal. Nesse sentido, o Estado brasileiro estabelece uma série de normas e parâmetros para a educação, que se encontram encarnados em documentos como a LDB – Lei de Diretrizes e Bases – e o PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais.
Tais documentos são um exemplo claro da ação organizativa da cultura promovida por parte dos intelectuais e de sua atuação para a geração do consenso. Assim, por mais que essas normas e parâmetros tragam pontos interessantes para a aplicação em sala de aula, estas não devem se consolidar em uma manual da prática docente a ser seguido cegamente.
Nesse sentido, o professor deve se colocar não como um reprodutor da cultura, mas como um organizador da cultura, que percebe as implicações ideológicas contidas em tais diretrizes e na própria organização do espaço escolar. A partir dessa atitude crítica, o professor poderá assumir sua função diretiva, de formação da consciência de seus discentes a partir de seu próprio contato com a escola e com os discentes, tendo em vista um outro projeto educacional para o Brasil, ou até mesmo contribuindo para a construção de uma outra hegemonia.
Assim, assumindo a sua função de intelectual o docente em seu espaço de trabalho na sala de aula, pode operar uma espécie de subversão da hegemonia, ou de uma contra-hegemonia, opondo-se à lógica do sucateamento da educação pública, contribuindo na formação de um novo tipo de sujeito histórico que pode se inserir na intensa e longa guerra de posições que é a luta pela hegemonia.
É óbvio que esse não é um processo simples. Não desejo contribuir para um falseamento da duríssima realidade docente no Brasil. Pelo contrário, o intuito dessas reflexões é o apontamento da existência de um projeto hegemônico, marcado pela ofensiva neoliberal que se expande pelos diversos espaços de difusão cultural, e também apontar a reflexão de alguns espaços de resistência contra-hegemônica que podem vir a existir a partir da retomada da função intelectual do docente.


[1] É importante lembrar aqui que todas essas categorias gramscianas devem ser compreendidas a partir de uma relação dialética.